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  1. Paradigm

    29 de jun. de 2012

    Tinha mesmo algo errado. 
    Ela acordava e via paredes que já não reconhecia, os olhos acompanhavam cores neutras de um quarto que não era seu e se olhando no espelho fitava com certa piedade um estranha que a olhava de volta pedindo desculpas. 
    Queria ela poder desculpa-la. 
    Uma vez que seus sonhos ela abandonou, uma vez que seu amor próprio ela perdeu. 
    Aquela estranha no espelho já a machucou mais do que qualquer outra pessoa, com palavras duras e decisões erradas. Ela era fraca, tinha piedade de todos, menos de si. Se vitimizava em meio a tanta coisa para fazer.
    Piscou umas três vezes, se virou. Olhando docemente, como quem se desculpas, limpou uma lágrima que escorria enquanto viu um estranho dormindo na sua cama, ou ela que estava dormindo na dele? 

    Lembrou-se de alguns momentos felizes tentando provar para si mesma que algo valera a pena, mas mesmo em seu refúgio mental, aqueles momentos de humilhação e maus tratos sempre voltavam, sempre sussurravam em seus ouvidos: "e agora? vai ligar para quem?"


    Respirou fundo, uma. Suspirou, inspirou e engoliu seco algo que parecia uma bola de pelos descendo pela garganta. Não choraria mais. 
    Levantou-se como que de súbito e só assim poderia ser, fez uma prece enquanto corria, abriu a porta do quarto, tropeçando em tanta coisa errada e escondida que mal se deu ao trabalho de olhar o que era.
    Não levava celular, dessa vez não ligaria para ninguém. Dessa vez, nenhum abandono de infância faria ela ser vitima das palavras de humilhação de quem lhe dava boa noite antes de um beijo rápido e sem gosto.
    Hoje ela era ela. 
    Saia pela última porta como quem corre para salvar a própria vida. Era o que ela fazia. Salvava a si mesma, corria da dor, do medo, da solidão.
    Corria tanto que mal sentia as pernas, estava frio, ela não se importava, qualquer coisa era válida naquele momento se fazia ela se sentir viva. Repetia enquanto dava passos largos, tudo aquilo que não ouvira quando criança, repetia o que não ouvia em seu dia a dia, repetia o quanto ela era capaz, o quão forte ela poderia ser se assim acreditasse. E sorriu. Sorriu para si mesma e por si mesma.
    Então ela chegou. 
    Um lugar nem tão frio, nem tão quente. Um refúgio. Entrelaçando os braços como num abraço a si mesma, ela disse "tenho orgulho de você, obrigada".

    Então um som agudo a despertou.
    "Bom dia meu amor'' - ele disse.
    "Bom dia" - disse ela fitando mais uma vez aquela estranha no espelho.

  2. Borboletas no estômago

    26 de jun. de 2012

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    E como pode um músculo que bombeia sangue se tornar sinônimo de sentimento e emoção?
    Acho mesmo que o estômago deveria ser tal representante.
    Sim. Pelo menos para mim.
    Afinal, quando olho para alguém é pelo estômago que percebo se gosto ou não. Às vezes ele embrulha e fica gelado, como num susto. É quando sei que gosto de alguém.
    Algumas vezes ele se retorce, me contorce, fazendo com que me curve e abrace os joelhos. É quando fico triste.
    Quando estou com fome ele ronca. E muito.
    Quando me espreguiço ele se mexe, como se houvesse uma bolha de ar nele.
    Quando fico decepcionada, irritada ou desesperada ele dói e muito.
    Quando me lembro de alguma coisa que me preocupa ele fica frio, como quando a gente bebe agua de estômago vazio.
    E o coração? Fica lá, bombeando sangue. Nenhuma emoção. Nenhumazinha.
    Então, acho muito injusto o coração ser sinônimo de amor.
    Para mim, o estômago representa realmente tudo o que sinto.
    É.
    Ou é isso, ou é por causa da gastrite.